3. Bio: Rubem Alves

Rubem Azevedo Alves nasceu em 15 de Setembro de 1933 em Dores da Boa Esperança / MG, filho de Herodiano Alves do Espirito Santo e Carmen de Azevedo Alves, caçula dos irmãos Ismael, Murilo e Ivan.

Conheceu muito cedo a pobreza, pois seu pai, que era um homem muito rico, em 1930 foi levado à falência devido à quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929. Por conta disso a família foi morar numa roça, em casa de pau a pique, iluminada por lamparinas. Aos poucos o padrão de vida foi melhorando e mudaram-se para Lambari, Três Corações e Varginha respectivamente. Durante as férias escolares, visitavam os avôs maternos em Lavrasg/ MG. Eles moravam num casarão colonial, de família abastada e tradicional.

A despeito dos tempos pobres, Rubem Alves teve uma infância muito feliz, da qual sempre guardou memórias e “causos” com muito carinho e humor.

Em 1945, mudaram-se para o Rio de Janeiro onde teriam um padrão de vida melhor. Rubem foi matriculado no Colégio Andrews, um dos mais famosos da cidade, onde conheceu o bullying por ser o garoto de sotaque “caipira” e pobre que estava estudando entre os ricos. Sua adolescência foi marcada por essa vivência, a qual o levou a rumos mais solitários.

Começou a estudar piano com o intuito de ser pianista profissional (em 1948) e também conheceu a primeira Igreja Protestante onde se sentiu acolhido e ligou-se ao protestantismo.

Em 1953, com 19 anos, mudou-se para Campinas para fazer seu Bacharelado em Teologia no Seminário Teológico Presbiteriano (filiado à Igreja Presbiteriana do Brasil), curso que foi concluído em 30 de Novembro de 1957.

Ao começar seu Bacharelado em Campinas, Rubem Alves cursou paralelamente a CPOR de São Paulo (Centro de Preparo de Oficiais da Reserva) do Ministério da Guerra, o qual concluiu em 10 de Setembro de 1954 recebendo sua espada como prêmio de 1º lugar em Artilharia. E também durante esses anos continuou seus estudos de piano, obtendo seu diploma de Habilitação para ensinar piano no Conservatório Carlos Gomes em 15 de Dezembro de 1956.

No final do seminário, em 1956, Rubem conheceu Lidia Nopper, com quem começou a namorar. Concluído o seminário, tornou-se pastor de uma comunidade presbiteriana em Lavras no interior de Minas.

Rubem e Lidia se casaram em 07 de Fevereiro de 1959 e Lidia passou a morar com Rubem em Lavras. Em 10 de Dezembro de 1959 nasceu Sergio Nopper Alves, o primeiro filho do casal.

Eu pouco tempo como pastor, Rubem tomou consciência que sua linha de pensamento teológica não era convencional, o que o levaria a caminhos difíceis. Como ele mesmo escreveu: “Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos. Claro que minhas ideias foram recebidas com desconfiança…” Nessa época, além de pastor, Rubem Alves lecionava Filosofia no curso científico do  Instituto Gammon.

Em 17 de Julho de 1962 nasceu Marcos Nopper Alves, o segundo filho do casal.

Em 1963, viajou sozinho para Nova Iorque para fazer sua pós-graduação em estudos religiosos avançados no The Union Theological Seminary, o qual lhe conferiu o título de Mestre de Teologia Sacra em 19 de Maio de 1964, com a defesa da sua tese “A Theological interpretation of the meaning of the Revolution in Brazil”. Nesse período Lidia ficou com os filhos em Campinas, onde moravam seus pais.

No final da sua estadia nos EUA, veio o Golpe Militar de 31 de março de 1964, o que lhe deu grande preocupação, pois sabia que sua visão como pastor não era considerada ortodoxa. De volta ao Brasil, regressou a Lavras com a família onde começaram seus anos de solidão, medo e perseguição, pois seu nome havia sido enviado ao Supremo Concílio da Igreja com acusações difamatórias. “Voltei ao Brasil. Comecei a aprender a conviver com o medo. Antes eram só as fantasias. Agora, sua presença naquele homem que examinava o meu passaporte e o comparava com uma lista de nomes. Ali ficava eu, pendurado sobre o abismo, fingindo tranquilidade (qualquer emoção pode denunciar), até que o passaporte me era devolvido.”

Com ajuda dos seus amigos e contatos, tem acesso ao “dossiê”, resultado da incursão militar de meses antes, o qual confirma que Rubem Alves era um dos indiciados. “O que mais doeu foi que uma das peças básicas da denúncia era um documento da direção do Instituto Gammon, escola protestante, que funcionava numa chácara que pertencera ao meu bisavô, e que a vendera aos missionários que fugiam da epidemia de febre amarela em Campinas, nos fins do século passado.”

Em 1965 foi convidado a fazer doutorado pela United Presbyterian Church – EUA (Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos da América do Norte), em combinação com o presidente do Seminário Teológico de Princeton. Rubem Alves voltou aos EUA para morar em Princeton, desta vez junto com sua família. “Não me esqueço nunca do momento preciso quando o avião decolou. Respirei fundo e sorri, descontraído, na deliciosa euforia da liberdade.” Em 04 de Junho de 1968 recebeu seu título de Doutor em Filosofia. Seus anos de exílio foram de muita felicidade.

Regressaram para o Brasil no fim de 1968, para morar em Campinas quando Rubem experimentou o desemprego. Mas em 1969 começou a lecionar na Faculdade de Filosofia de Rio Claro, onde iniciou sua carreira acadêmica. Nessa época, influenciado pela experiência amarga do desemprego, renovou seus conhecimentos de piano, obtendo o registro como professor de piano em 30 de Junho de 1970, pelo Conselho Estadual de Cultura.

Em 1971 foi convidado a lecionar como professor visitante no Union Teological Seminary em Nova Iorque – EUA onde viveu novamente com sua família durante um ano. Nesse período recebeu o título de Cidadão Honorário de Indianápolis.

Regressando novamente ao Brasil, em 1972, retornou à Faculdade de Rio Claro. Em 1974, ingressou no Instituto de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Em 10 de Novembro de 1975, nasceu sua filha Raquel Nopper Alves, fato que marca a sua vida e sua carreira. Ela nasceu com lábio leporino e fissura palatal e diante disso Rubem Alves transformou seu jeito de escrever. Começou a se desligar dos formatos acadêmicos de escrita, dando espaço àquilo que lhe dizia o coração, como forma de tocar a alma e também ajudar a sua filha.

Em 08 de Abril de 1980 conquistou o grau de Livre Docente em Filosofia Política pela Unicamp e em 1982 tornou-se membro da Academia Campinense de Letras.  Seguiu sua carreira como professor universitário na UNICAMP, até o começo da década de 1990, quando se aposentou.

Nesse período assume a Diretoria da Assessoria Especial para Assuntos de Ensino (1983-85) e a Diretoria da Assessoria de Relações Internacionais (1985-88) da UNICAMP. Esses anos marcam o início da explosão da sua carreira como escritor. Começou a lançar seus primeiros livros em 1984, totalmente descomprometidos com a linguagem e o ambiente acadêmicos. Inspirado pela sua filha, começou a escrever estórias para crianças também. No final desta década, começou a fazer curso de formação em Psicanálise em São Paulo, para iniciar sua trajetória como psicanalista quando se aposentasse.

Durante a década de 1990, dedicou-se a sua rotina de psicanalista e escritor, e nessa época já era convidado a dar palestras por todo Brasil na área de educação.

Em 1995 divorciou-se de Lidia, para começar um relacionamento com Thais Couto, com quem teve uma relação estável durante 14 anos.

Neste mesmo ano, em 03 de Maio, recebeu o título de Professor Emérito da UNICAMP, devido à sua contribuição ao desenvolvimento da universidade. E em 27 de Maio de 1996 recebeu o título de cidadão campineiro pela cultura que trazia para a cidade.

Os anos de seu relacionamento com Thais marcaram seu desligamento gradativo da vida de psicanalista, ocupando-se exclusivamente de dar palestras (nacionais e internacionais) e escrever. Foi nesses anos que conheceu o vilarejo de Pocinhos do Rio Verde, pelo qual se apaixonou. Construiu um chalé no alto de uma colina desse lugar, para poder viver perto da natureza também, revezando dias em Campinas e dias em Pocinhos (entre 1998 e 2008).

Rubem Alves se consagrou um dos maiores nomes da educação brasileira nesses anos, e também intensificou sua produção literária nas áreas de educação e de crônicas do cotidiano. Em 2003, recebeu do governador do Estado de São Paulo o Prêmio PNBE “O educador que queremos”.

Em 2006 termina o seu relacionamento com Thais, e Rubem Alves descobre um câncer no estômago, do qual se cura apenas cirurgicamente. Retoma seu relacionamento com Thais no final deste ano, até 2009 quando rompem definitivamente.

Recebeu o 2º lugar do Prêmio Jabuti na categoria “Contos e Crônicas” com seu livro “Ostra feliz não produz pérola” (Editora Planeta) e logo em seguida, em 09 de Novembro de 2009 submeteu-se a uma cirurgia cardíaca. O processo de pós operatório o reaproximou de Lidia, com quem nunca perdera contato definitivamente. Em 18 de Dezembro de 2010 Rubem e Lidia se casaram novamente.

No início de 2011 Rubem descobre que tem o chamado Mal de Parkison, doença que o enfraquece aos poucos, forçando a parada gradativa de suas tarefas e compromissos como palestras e escritas semanais de crônicas para jornais.

Em 2012, a publicação nos EUA do seu livro “Transparências da Eternidade”, intitulado “Transparencies of Eternity” recebeu o prêmio Eric Hoffer Awards (Menção Honrosa em Excelência em publicações religiosas).

Fundou em 15 de Setembro do mesmo ano o Instituto Rubem Alves com a iniciativa de preservar e perpetuar todo seu acervo e sua obra e também marcar a presença do pensamento dele na educação no Brasil.

Faleceu em 19 de Julho de 2014, de falência múltipla dos órgãos.

[Biografia transcrita, com pequenas alterações estilísticas, do site do Instituto Rubem Alves, onde a biografia aparece acompanhada de lindas fotos: vide Biografia de Rubem Alves.]